Eu nunca havia
participado da parada do orgulho LGBT, mas esse ano decidi que iria até mesmo sozinho
se preciso fosse. Sorte a minha encontrei outra ovelha negra perdida do rebanho
atrás de companhia pra participar do evento, a linda da Sofia Coeli,
responsável pela maioria das fotos deste post.
Alguns de
vocês podem dizer:
Mas Marcos, com esse montão de amigos gays, lésbicas, bis e trans que você tem, ainda estava achando que teria de ir sozinho para a parada? Bixa, menas.
Pois é. Estranho
né? Quando o casamento igualitário foi aprovado em todo o território dos EUA a
maioria esmagadora dos meus amigos participou da campanha “Celebrate Pride” e
colocou o filtro colorido na foto de perfil, foi lindo. Fiquei emocionado por
uns dias com essa onda de amor, aceitação e orgulho da diversidade. Mas de
forma irônica, na medida em que o dia da 18ª Parada do Orgulho LGBT de BH ia
chegando, eu fui percebendo a falta de repercussão que esse evento tinha no meu
ciclo de convívio e amizades. E gente, meu ciclo de convivência é
coloridíssimo, viu? Nem mesmo um comentário do tipo: “A parada é esse final de semana, você viu? ” Ou quem sabe um
convite para ir junto. Nada mesmo, uma reticência completa sobre o assunto.
Fiquei
pensando no evento que funcionou como gatilho para o movimento do orgulho LGBT
em 1969 e percebi que, diferente do momento da rebelião de Stonewall em NY, a
principal forma de opressão que sofremos hoje em dia não vem do conflito direto
e físico com a polícia, por exemplo. (Apesar desse tipo de violência ainda
existir, com mais frequência do que imaginamos. Veja o caso da morte da Laura
Vermont, que tem como principais suspeitos dois policiais: http://goo.gl/2vouw3 ). A opressão e as ameaças
que sofremos hoje são mais sutis. Sinto que a pauta do movimento LGBT, como um
todo, passou pela exigência de aceitação e agora batalha pelo respeito. Saímos
do armário, não temos mais que nos esconder. Essa é uma vitória incrível, e
devemos a todos e todas que lutaram no passado para que pudéssemos ter essa
liberdade hoje, para que fôssemos aceitos.
Mas a aceitação
que conquistamos está longe, MUITO LONGE, de respeito. E respeito é algo que,
definitivamente, nós não temos. Não somos respeitados em praticamente nenhuma
das esferas sociais, e é essa a nossa luta hoje. Talvez por
isso meu facebook tenha ficado multicolorido durante a campanha Celebrate Pride, mas foi tão difícil cruzar com rostos amigos na multidão de 30 mil pessoas que
lotou a praça da estação no domingo à tarde.
A Rebelião de
Stonewall deu origem à um movimento de ORGULHO. E muitas pessoas não entendem
muito bem o que esse termo significa. Afinal de contas, orgulho pode ser aplicado
tanto como um sentimento de capacidade e satisfação pessoal como também um
sentimento de arrogância ou soberba. Picuinhas do nosso idioma multifacetado.
Mas o que ninguém se lembra é que o antônimo desse termo é claro, simples e não
tem dupla interpretação: VERGONHA.
“ Vergonha é uma condição psicológica e uma forma de controle religioso, político, judicial e social, consistindo de ideias, estados emocionais, estados fisiológicos e um conjunto de comportamentos, induzidos pelo conhecimento ou consciência de desonra, desgraça ou condenação. “
Wikipédia
Vergonha é uma
coisa pesada, né? Consciência de desonra, desgraça e condenação. Se você,
leitor, é heterossexual, talvez não entenda muito bem o peso que essas palavras
carregam. Mas se você, assim como eu, se enquadra dentro da sigla LGBT ou dentro de algum dos seus aspectos de alguma forma, você sabe exatamente do que eu estou falando.
Desonra,
desgraça e condenação são conceitos que assombram todos LGBT’s antes e depois
de sair do armário. E é preciso muita coragem e força para aos poucos deixar
essa vergonha de lado e aprender a ter orgulho de si mesmo. É por essas e por
outras que abominações como a página “Orgulho de ser hétero” não fazem o menor
sentido.
E é justamente
porque é preciso vencer toda essa vergonha imposta, que nós, LGBT’s, precisamos
exercitar o nosso orgulho diariamente. E se existe algo que ajuda e muito nesse
sentimento é a noção de comunidade. Ver nossos amiguinhos colorindo a foto de
perfil é delicioso. Acalenta até os corações mais frios. Mas ver toda essa
gente unida, em um mesmo lugar, com um mesmo propósito, é mil vezes mais
emocionante.
Nesse
movimento que clama por respeito, ousar existir, botar a cara no sol e exigir
muito mais que aceitação é a mais militante de todas atitudes. Participar da
parada tem um significado muito maior do que se pensa. Participar da parada é
reconhecer todos os direitos que já foram conquistados com muita luta e sofrimento mas perceber que ainda falta MUITO, mas MUITO MESMO, para que a sonhada
igualdade seja alcançada. Malafaias, Bolsonaros, Felicianos, Cunhas e outras
aberrações políticas estão aí para provar isso.
E é justamente
por isso que participar da parada é sim, um ato político. E não é preciso nem
levar cartaz com palavras de ordem (mas pode sim!), basta encontrar lá dentro
de você aquilo que te define como quem você é de verdade, colocar esse seu eu para
fora e desfilar ele, cheio de orgulho, sambando na cara de uma sociedade que há
algumas décadas percebeu que você existe, mas ainda teima em torcer o nariz
quando passa.
Fotos por Sofia Coeli.
...
Fiquei muito emocionada com essa reportagem! E as fotos estão lindas!! Realmente eu fico triste ao constatar que muita gente mesmo dentro de nosso meio, tê essa vergonha em ser quem são. Claro que não podemos culpá-los, afinal, infelizmente ainda vivemos em um sociedade machista, LGBTfóbica e misógena.. A nossa luta se faz cada vez mais necessária, principalmente com toda essa onda de ódio que vem sendo alimentada pelos fundamentalistas religiosos.
ResponderExcluirMark (sim, vc é Mark para sempre <3) SEU LINDO.
ResponderExcluirE realmente, você é todo seu.
E é incrível (mesmo que geograficamente distante) te ver sempre (MEU. Dez anos de amizade tá há um pulo de 2015!) se apropriando de quem você , com coragem, clareza e força <3
Ler suas impressões do mundo sempre me deixa feliz, sempre te vi lutar por liberdade, de elfos, trouxas, bruxos, haha.
Brincadeiras a parte, já que o tópico aqui é orgulho, quero deixar bem claro: ser sua amiga, mesmo com os infinitos desencontros, é motivo de orgulho. Ter gente que luta, sente e quer um mundo com mais respeito é de aquecer o coração, e você sempre soube deixar meu coração aquecido <3 E, para o que precisar, estamos aí!
E prometo, aos poucos vou me atualizando aqui <3