terça-feira, 2 de junho de 2015

Eles não desejam mal a quase ninguém.


Amigas gays, sapatas, total flex, assexuadas e representantes amadas de todos os espectros possíveis da fluida e linda sexualidade humana, venho com esse texto perfumado pelas sete fragrâncias da Egeo, do boticário, lembrar uma coisa importante: somos, sempre fomos e sempre seremos minoria.

Falei o óbvio? Talvez. Mas as vezes é bom repetir pra que não nos esqueçamos. O comercial da Boticário para o dia dos namorados é lindo, fofo, meigo e representativo. E isso é ótimo! Batamos palmas pela coragem dos representantes da marca de se posicionar de forma firme, acertaram em cheio. Viva! Tomara que isso incentive outras marcas a se posicionarem de forma semelhante. Mas resolvi escrever esse textinho para falar de outro ponto. Ou outros pontos:

A Rejeição do comercial e o boicote da marca não são um absurdo tão grande assim, muito menos uma surpresa.

Nosso país ainda é aquele que tem o maior registro de crimes homofóbicos NO MUNDO TODO. Seguido por México e Estados Unidos.  Sete em cada dez homossexuais já sofreram alguma forma de agressão (e fizeram denúncia, porque se formos contar todas as formas de agressão não denunciadas sabemos que esse número pula pra 10/10 né?). A representatividade de homossexuais na televisão é ridícula e pouco expressiva. O casamento civil é uma conquista extremamente recente e sofrida. Enfim, o cenário é ruim. A coisa está feia, e a gente se esquece disso. E nos esquecemos por quê?

A circulação de informação pela internet nos coloca dentro de uma bolha de conforto.

Para além do fato de que nos cercamos de pessoas que nos fazem bem, e por isso a maioria dos nossos amigos são gays, ou pessoas que nos aceitam e fazem o máximo pra se livrar de seus preconceitos, os novos meios de acesso à informação tendem a nos deixar monotemáticos. O algoritmo do feed do facebook faz com que só vejamos publicações de pessoas que compartilham dos nossos interesses. Ou seja: por mais que você tenha vários amigos babacas na sua lista repudiando um comercial como esse e sendo escrotos em níveis astrológicos é muito improvável que o chorôrô da família tradicional vá aparecer na sua timeline. Isso te dá a ilusão de que todo mundo é legal, mente aberta e nada preconceituoso. Mas cuidadinho, amiguinho. O mundo não é tão cor de rosa quanto a sua timeline.

Precisamos voltar a fazer barulho, voltar a sermos ativistas.

Somos minoria e sempre seremos. O importante é que sejamos uma minoria respeitada, representada e não negligenciada. Para isso é importante que sejamos vistos, ouvidos e lembrados a cada dia. Não podemos nos acomodar e nos sentirmos confortáveis com a vidinha mais ou menos que conquistamos até então. Vivemos hoje em um mundo bem menos repressivo do que a vinte anos atrás, mas não poder demonstrar afeto em público sem ouvir uma buzina de carro, um assovio impertinente ou qualquer forma de assédio ainda é repugnante e absurdo. E lutar pelo fim disso é, acreditem se quiser, muito mais difícil que lutar pelo direito ao casamento civil ou pela criminalização da homofobia.

Ativismo também é feito no dia a dia, no cotidiano.

Participar de passeatas, abaixo assinados e petições online são formas válidas de luta pra tentar mudar um pouquinho esse mundinho todo errado. Mas a maioria esmagadora das pessoas ainda nos vê como aberrações, como “desviados” ou anormais. Da próxima vez que pegar um ônibus olhe bem para cada pessoinha que está fazendo uso desse transporte com você e tente imaginar qual a opinião dela sobre a sua sexualidade (isso se eles não estiverem demonstrando essa opinião de forma clara com torcidas de nariz e olhares significativos). No nosso dia a dia convivemos com pessoas homofóbicas o tempo todo e engolimos muitos sapos em nome de uma conveniência que eu não sei se leva alguém a lugar algum. Interromper a piada machista do tio do pavê no almoço de domingo e confrontar o ataque que ela representa também é ser ativista. Chamar o coleguinha fanático pelo time de futebol e exigir que ele pare de usar xingamentos homofóbicos e machistas como “maria”, “chupa”, “gaylo” e demais variantes também é ser ativista. Não esconder seu relacionamento ou sua sexualidade dentro do ambiente de trabalho por “conveniência” também é ser ativista. Enfim, não engolir sapos é ser ativista.

Aceitação x Respeito.

Parafraseando a música que dá embalo à propagando da boticário: a gente vive junto mas não se dá bem, porque eles não desejam mal a quase ninguém. E esse quase somos nós.
Lembre-se: você não precisa da “aceitação” de ninguém porque não precisa pedir permissão para ser você mesmo. Não precisa abaixar a cabeça pra quem, de forma direta ou indireta, ajuda a cercear seus direitos. Não queremos aceitação, queremos respeito. E a campanha de boicote contra o comercial da Boticário veio em boa hora para nos lembrar que esse RESPEITO é uma coisa que estamos longe de obter.

E a gente vai à luta e conhece a dor, consideramos justa toda a forma de amor...


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