sexta-feira, 26 de junho de 2015

LEGALIZARAM O CASAMENTO!


A suprema corte dos estados unidos votou hoje, 5 contra 4, pela legalização do casamento. O casamento, finalmente, deixou de ser um privilégio em todo o território dos Estados Unidos da América e se tornou o que ele sempre deveria ser: um direito de todos.

Não é o casamento gay que foi aprovado, nada disso. Não existe coisa tal como casamento gay. Casamento é casamento. Uma coisa que existe há milhares e milhares de anos. O casamento é uma instituição, um vínculo estabelecido entre duas pessoas e reconhecido pelo governo e sociedade. O casamento precede a religião, e justamente por isso não vou nem falar sobre ela aqui.

Quando duas pessoas se amam, querem dividir a vida juntas, querem ser reconhecidas socialmente por essa união e vínculo de amor, elas se casam. Simples assim, isso é casamento. 

O casamento é um direito que garante também vários outros direitos como declaração de impostos conjunta, estabelecimento de vinculo parental de primeiro grau e outras coisitas mais.

Mas o mais importante. CASAMENTO QUASE SEMPRE TEM FESTA. Segue o guia.



Quando um homem e uma mulher se unem para toda a vida e solicitam o reconhecimento do governo e sociedade perante esse vínculo, eles se casam. BAM! CASAMENTO!



Quando um homem e outro homem se unem para toda a vida e solicitam o reconhecimento do governo e sociedade perante esse vínculo, eles se casam. UAU! CASAMENTO!



Quando uma mulher e outra mulher se unem para toda a vida e solicitam o reconhecimento do governo e sociedade perante esse vínculo, elas se casam. INCRÍVEL! CASAMENTO!

Perceberam a diferença? Não? Pois é. Não tem diferença.

O amor finalmente venceu o ódio e o casamento saiu da lista de coisas proibidas lá na terrinha americana. Virou coisa legal.
Que legal! 

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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Eu acho é pouco.

A cruz é um instrumento de tortura milenar. Uma representação máxima da dor, sofrimento, flagelo e suplício. A cruz também é um símbolo de ódio, ignorância e crueldade. Um símbolo da frieza desumana dos que crucificam e da humilhação taxativa do crucificado.

A cruz é também e principalmente o símbolo mundial do cristianismo. Uma vertente religiosa cuja doutrina foca o ato de amor de um deus que, para redimir os pecados de seu povo, submeteu seu filho ao sacrifício máximo da morte e à humilhação pela cruz. Esse filho viveu pregando a compaixão, o amor e o respeito. Criou dez mandamentos para a sua vindoura igreja e para simplificar as coisas resumiu todos eles em dois:

  1.  Amar a deus sobre todas as coisas.
  2. Amar ao próximo como a si mesmo.
Amar ao deus que, POR AMOR, dá a vida de seu próprio filho pelo pecado dos outros e amar a estes outros como se ama a si mesmo... Para mim, na minha humilde interpretação, algo que diz que o  AMOR é o principal ensinamento de todos e deve vir acima de tudo. Ou deveria ser.

No domingo passado a atriz Viviany Beleboni fez uma performance artística durante a parada do orgulho LGBT em São Paulo. A performance consistia de uma representação da crucificação de Jesus. As letras INRI (Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum – Jesus Narazeno Rei dos Judeus) supostamente presentes na placa da crucificação original de Jesus foram substituídas pelo apelo “BASTA DE HOMOFOBIA COM GLBTs”. Uma metáfora clara para o suplício que essas pessoas sofrem na sociedade em que vivemos. Pela constante humilhação, dor e sofrimento que podem resultar em assassinatos, como o da amiga da atriz baleada com quatro tiros na cidade de Porto Alegre em um crime de transfobia.

Qualquer que seja o cristão que olhe para a imagem dessa mulher trans emulando a crucificação de Jesus Cristo, coberta de sangue da cabeça aos pés, com um clamor de BASTA sobre a cabeça e não consiga ver neste protesto um pedido gritante de SOCORRO não deveria ser digno de se considerar cristão verdadeiro.

Justamente aqueles de deveriam amar ao deus, que perdoa a tudo e a todos, sobre todas as coisas e ao próximo como amam a si mesmos são os primeiros a levantar os dedos em riste, atirar pedras, condenar ao fogo do inferno, ameaçar de morte, agredir e humilhar.

Para estas pessoas o que incomoda aqui não é o uso do seu símbolo religioso e a apropriação deste. O jogador de futebol Neymar pode virar mártir crucificado na capa da revista Placar sem iniciar nenhum levante popular. Não. O que incomoda aqui é que Viviany é uma mulher trans, um ser estranho, diferente, uma “aberração” para esse povo cheio de ódio que esqueceu que a ÚNICA missão conferida por seu deus era amar. Um povo cheio de ignorância que não consegue perceber que com sua agressão cotidiana incentiva e justifica formas de agressão piores que culminam em assassinatos. Mortes horrendas que se assemelham de verdade à morte pela cruz. Mortes irreversíveis: eu nunca ouvi falar de uma travesti que ressuscitou ao terceiro dia para voltar aos braços de sua mãe, família e amigos.

Essa gente cheia de ódio precisa acordar para perceber que respeito, tolerância, compaixão e amor são a chave para um mundo melhor; e que o discurso que elas pregam é de desrespeito, aversão, ignorância e ódio. ÓDIO. E para vencer esse ódio é preciso SIM tocar no ponto mais dolorido da questão. Essa gente precisa rever o sacrifício de seu deus na pele de uma mulher trans SIM, mais e mais vezes. Até que um dia, quem sabe, consiga enxergar no pedido de socorro de uma atriz coberta de sangue falso o sofrimento rotineiro das milhares de travestis e mulheres trans que, quando tem sorte, não sangram de verdade.
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terça-feira, 2 de junho de 2015

Eles não desejam mal a quase ninguém.


Amigas gays, sapatas, total flex, assexuadas e representantes amadas de todos os espectros possíveis da fluida e linda sexualidade humana, venho com esse texto perfumado pelas sete fragrâncias da Egeo, do boticário, lembrar uma coisa importante: somos, sempre fomos e sempre seremos minoria.

Falei o óbvio? Talvez. Mas as vezes é bom repetir pra que não nos esqueçamos. O comercial da Boticário para o dia dos namorados é lindo, fofo, meigo e representativo. E isso é ótimo! Batamos palmas pela coragem dos representantes da marca de se posicionar de forma firme, acertaram em cheio. Viva! Tomara que isso incentive outras marcas a se posicionarem de forma semelhante. Mas resolvi escrever esse textinho para falar de outro ponto. Ou outros pontos:

A Rejeição do comercial e o boicote da marca não são um absurdo tão grande assim, muito menos uma surpresa.

Nosso país ainda é aquele que tem o maior registro de crimes homofóbicos NO MUNDO TODO. Seguido por México e Estados Unidos.  Sete em cada dez homossexuais já sofreram alguma forma de agressão (e fizeram denúncia, porque se formos contar todas as formas de agressão não denunciadas sabemos que esse número pula pra 10/10 né?). A representatividade de homossexuais na televisão é ridícula e pouco expressiva. O casamento civil é uma conquista extremamente recente e sofrida. Enfim, o cenário é ruim. A coisa está feia, e a gente se esquece disso. E nos esquecemos por quê?

A circulação de informação pela internet nos coloca dentro de uma bolha de conforto.

Para além do fato de que nos cercamos de pessoas que nos fazem bem, e por isso a maioria dos nossos amigos são gays, ou pessoas que nos aceitam e fazem o máximo pra se livrar de seus preconceitos, os novos meios de acesso à informação tendem a nos deixar monotemáticos. O algoritmo do feed do facebook faz com que só vejamos publicações de pessoas que compartilham dos nossos interesses. Ou seja: por mais que você tenha vários amigos babacas na sua lista repudiando um comercial como esse e sendo escrotos em níveis astrológicos é muito improvável que o chorôrô da família tradicional vá aparecer na sua timeline. Isso te dá a ilusão de que todo mundo é legal, mente aberta e nada preconceituoso. Mas cuidadinho, amiguinho. O mundo não é tão cor de rosa quanto a sua timeline.

Precisamos voltar a fazer barulho, voltar a sermos ativistas.

Somos minoria e sempre seremos. O importante é que sejamos uma minoria respeitada, representada e não negligenciada. Para isso é importante que sejamos vistos, ouvidos e lembrados a cada dia. Não podemos nos acomodar e nos sentirmos confortáveis com a vidinha mais ou menos que conquistamos até então. Vivemos hoje em um mundo bem menos repressivo do que a vinte anos atrás, mas não poder demonstrar afeto em público sem ouvir uma buzina de carro, um assovio impertinente ou qualquer forma de assédio ainda é repugnante e absurdo. E lutar pelo fim disso é, acreditem se quiser, muito mais difícil que lutar pelo direito ao casamento civil ou pela criminalização da homofobia.

Ativismo também é feito no dia a dia, no cotidiano.

Participar de passeatas, abaixo assinados e petições online são formas válidas de luta pra tentar mudar um pouquinho esse mundinho todo errado. Mas a maioria esmagadora das pessoas ainda nos vê como aberrações, como “desviados” ou anormais. Da próxima vez que pegar um ônibus olhe bem para cada pessoinha que está fazendo uso desse transporte com você e tente imaginar qual a opinião dela sobre a sua sexualidade (isso se eles não estiverem demonstrando essa opinião de forma clara com torcidas de nariz e olhares significativos). No nosso dia a dia convivemos com pessoas homofóbicas o tempo todo e engolimos muitos sapos em nome de uma conveniência que eu não sei se leva alguém a lugar algum. Interromper a piada machista do tio do pavê no almoço de domingo e confrontar o ataque que ela representa também é ser ativista. Chamar o coleguinha fanático pelo time de futebol e exigir que ele pare de usar xingamentos homofóbicos e machistas como “maria”, “chupa”, “gaylo” e demais variantes também é ser ativista. Não esconder seu relacionamento ou sua sexualidade dentro do ambiente de trabalho por “conveniência” também é ser ativista. Enfim, não engolir sapos é ser ativista.

Aceitação x Respeito.

Parafraseando a música que dá embalo à propagando da boticário: a gente vive junto mas não se dá bem, porque eles não desejam mal a quase ninguém. E esse quase somos nós.
Lembre-se: você não precisa da “aceitação” de ninguém porque não precisa pedir permissão para ser você mesmo. Não precisa abaixar a cabeça pra quem, de forma direta ou indireta, ajuda a cercear seus direitos. Não queremos aceitação, queremos respeito. E a campanha de boicote contra o comercial da Boticário veio em boa hora para nos lembrar que esse RESPEITO é uma coisa que estamos longe de obter.

E a gente vai à luta e conhece a dor, consideramos justa toda a forma de amor...


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