Tem gente caminhando na orla da lagoa, tem gente comprando pão fresquinho na padaria, tem gente tomando café da manhã com a família como nos comerciais de margarina (porque me recuso a viver em um mundo onde não há ninguém passando manteiga sintética na torrada em frente a uma enorme variedade de iguarias, sucos, frios e frutas pela manhã). Tem gente fazendo seções de exercícios com dez, onze, doze ou mais repetições na academia do quarteirão acima.
Tem gente tomando banho, tem gente vendo a Fátima Bernardes (eu acho), tem gente assistindo aula (eu deveria ser um desses), tem gente estendendo roupa no varal, tem gente fazendo gelatina, tem gente colocando em prática o projeto artístico de pintar o vazo de porcelana da estante, tem gente pegando ônibus, tem gente trabalhando, tem gente lendo Guimarães Rosa, tem gente com fome antes da hora do almoço e depois de tomar café, tem gente limpando o jardim, tem gente regando flores, tem gente cantando Marisa Monte na janela ao lado do meu quarto com o sol batendo fraco no rosto e o cabelo voando forte ao vento.
Tem gente fazendo a unha, tem gente levando o Arthur à escola, tem gente buscando o Arthur da escola, tem gente dando banho no Arthur antes do almoço. Tem gente pagando conta atrasada, tem gente tirando segunda via de documento com foto antiga, tem gente cancelando a assinatura daquela revista horrível, tem gente limpando a geladeira.
Tem gente sobrevivendo à vida, tem gente resolvendo a vida, tem gente vivendo.
Tem gente rindo na minha cara por eu não fazer nada além de dormir mais do que devia.
Tem gente, como eu, que não é gente da manhã. E lamenta isso.
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