Quem nunca viveu aquela sensação de abobamento, um sentir-se atônito, ao terminar de ler um bom livro, ouvir um excelente álbum, prosear uma boa conversa ou assistir um excelente filme?
Na última quinta-feira eu vi um desses excelentes filmes: lindo, mas triste. Deve ser aquela história, aquela que diz: “pra se escrever um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”. O curioso desse filme é que ele é triste porque acaba. Só por isso.
Dois caras se conhecem em uma sexta-feira à noite, transam, ficam juntos na manhã de sábado, saem juntos no sábado à noite e no domingo à tarde um deles se muda para New York com volta marcada, caso haja volta, para dali a dois anos. Não é uma história de amor: eles já sabiam da separação iminente. É uma bela história sobre um belo momento. Aliás, o nome do filme é
Weekend.
A expectativa de uma declaração de amor na estação de trem, no momento da despedida, seguida de aplausos vindos dos transeuntes (sempre solidários com as histórias de amor alheias nas películas hollywoodianas) não era grande. Fosse pelo fato de serem gays, e muito provavelmente haver chances de serem linchados pelo público, e não aclamados, ou simplesmente por se tratar de um filme belo demais, delicado demais, humano demais para terminar assim: tão clichê. O relevante é que nas cenas finais, no último segundo, no instante final, desejei que ficassem juntos. Eles funcionaram muito bem juntos, mesmo que só por 48 horas.
Ora, ninguém em sã consciência adiaria uma viagem de estudos em favor de um relacionamento fantasma com um completo desconhecido. E se, a partir daquele maravilhoso final de semana, essa relação utópica começasse a mostrar problemas irremediáveis? E se um término traumático, peripécia do destino, estivesse os esperando depois da curva do primeiro mês de namoro? Melhor não. Que se encerre aqui, enquanto estamos todos bem. Como a carreira de um astro do futebol que, se esperto e bem agenciado, se aposenta enquanto ainda está “por cima”, sob os holofotes.
O que me inquietou foi o depois. E como seguir com a vida? A vida das personagens e a minha também. Porque a vida não é como um filme, e relacionamentos não são como um caso apaixonado do final de semana, o sonho de uma noite de verão.
O filme acabou. A história das personagens também. No enredo da película ficou com um dos rapazes uma fita de gravações da primeira noite dos enamorados. Aqui no meu mundinho ficou na memória um eco de um filminho bacana que vi na noite de quinta-feira. A vontade era de emendar filminhos bacanas da noite de quinta até que fosse manhã de sexta, tarde de sábado, noite de domingo, madrugada de segunda... Fácil como se fosse possível viver um “relacionamento-pílula” no final de semana; todos os finais de semana. Só pra não ter que voltar para a melancolia do dia a dia, pra fugir da responsabilidade de ter que (sobre)viver a(à) própria rotina.
No final das contas fico achando que o que é mesmo triste no filme, assim como na história dos dois rapazes, não é o seu fim. É a estaca zero que aparece depois que sobem as letrinhas.
OBS: Esse texto não é recente e a “última quinta-feira”, mencionada no segundo parágrafo, provavelmente se refere a uma quinta-feira que vivi quatro ou cinco meses atrás… Honestamente eu não me lembro. A vida, essa caixinha de surpresas, me impediu de publicá-lo na época pelos motivos mais inusitados possíveis. Uma vez que o reencontrei numa pasta obscura do meu desktop, decidi publicá-lo aqui, seguindo o conselho da minha amiga Zih, que me disse uma vez para criar um blog e transformá-lo em um depósito das asneiras que penejo.