Quem já sentiu um aperto legítimo no peito, desses que não são apenas figuras de linguagem e apertam de fato, sabe quão difícil é definir um sentimento. Colocar em palavras, na forma de prosa ou poesia, as aflições que perpassam o consciente e se embolam na nossa mente, criando um suco cerebral de hormônios e sintaxes capazes de desacelerar a respiração e comprimir o peito, não é tarefa fácil. Sejamos sinceros: é impossível, na verdade.
Mesmo assim a mente pede vazão, dar a este aperto um lugar no mundo do lado de fora, pra que ele não comprima tudo o que há do lado de dentro. É aí que esbarramos na definição.
Fosse eu pintor, músico, bailarino ou escultor, daria forma e som, cor e tom pra esse sentimento. Iria eu interpretá-lo, lapídá-lo como o pedaço de carvão que outrora foi, comprimido no aperto do peito até virar diamante bruto, esperando as facetas da arte o tornarem joia rara para brilhar aos olhos alheios. Iria transformá-lo em tela, música, dança e peça. Faria uma releitura, e do sentimento que apertava o peito traria ternura, despertar de outros sentimentos em outras pessoas. Ficaria bonito, estético.
Mas não manuseio pincéis, minhas mãos não dedilham cordas, meus pés não desenham notas e está longe da minha capacidade transformar pedra bruta em arte fina. Conceber beleza a partir de dor, contemplação provinda de ânsia, é privilégio do artista; que repousa os olhos da alma no âmago de suas inquietudes e faz nascer através de sua perícia uma interpretação admirável da sua empatia. Não. Minha infeliz inquietude fez de mim escritor manco, que tropeça na ortografia e nos vocábulos, faz mal uso da gramática e insiste, ao se prender nas malhas da língua, em definir ao invés de performar.
Falhando na empreitada de posicionar uma porção de grafemas um do lado do outro e fazê-los soar, em determinado idioma, como o tiritar taciturno que faz ranger minhas costelas comprimidas, sou obrigado a recorrer ao que há de mais acessível no meu idioma, e da última flor do lácio colher sinceridade na sua clareza, sem florear minúcias, para não correr o risco de ser mal entendido:
Meu peito dói.